24.6.15

Manoel de Barros

"Vi iluminado em cima de nossa casa o sol." Manoel de Barros

9.10.13

Fuga, de Caio Fernando Abreu

Eles tinham seis anos de idade e iam fugir juntos. Lento, o menino enfiou o pião no bolso, sua única posse, e encaminhou-se para a porta. De dentro chegou a voz da mãe num prenúncio de reclamação está quase na hora do jantar, onde é que você vai? Não respondeu. Em silêncio, começou a concretizar o que há dois dias se desenrolava dentro dele. A segurança da coisa construída em imaginação durante horas de quietude emprestava a seus passos um precisão até então inédita, permitindo-lhe a audácia de não responder, ignorando eventuais palmadas. O trinco quase machucou a mão no ato de fechar a porta, mas ele já começava a criar das coisas que formavam "o que ficava". E o que ficava era tanto que praticamente não tinha nada\além de: um pião no bolso e uma idéia na cabeça.

O morrer do sol colocava uma cor também de fuga nas casas, nas coisas, nas pessoas que cruzavam numa melancolia de anoitecer. Em breve as sombras se afirmariam em escuro e ele não estaria mais ali. A idéia poderia quebrá-lo por dentro, porque era duro de repente não estar mais num lugar. Mas ele nem se machucava, há tanto já adivinhara os movimentos interiores prevenindo os receios, precavendo-se contra a série de sentimentaloidices que se amontoariam bruscas sobre seu coração de seis anos de vida. Por tanto, estava preparado. Dentro do tempo que vive era, dois dias era uma longa preparação de esqueci mento que se impusera com método, recusando ternuras, comida na boca, cafuné antes de dormir. Estava todo delineado. E fugia.

Caminhava devagar, a coisa remexendo-se com gosto dentro dele. Num esquecimento de que era insípida, quase estalava a língua de puro prazer. Mãos nos bolsos, cabeça baixa, ah nunca se sentira tão definitivo. Era seu primeiro crime, e tão longamente premeditado que não havia espanto nem temor. Como um profissional da fuga, ia indo pela calçada comprida, rente ao muro. O sol espichava sua sombra para trás, vezenquando ele se voltava para ver se ela ainda o acompanhava. Ainda. Expressava seu alívio em forma de suspiro, e prosseguia. Permitia-se apenas esse medo, o de estar sozinho. Mas aquela sombra imensa e achatada contra o cimento não deixava de ser uma segurança, embora disforme.

Pegou uma pedrinha branca e começou a riscar o calçamento. Depois enfiou-a no bolso, numa sabedoria de coisa decidida: poderiam segui-lo através do risco fino, irregular. Ainda mais seguro, olhou quase vesgo de satisfação para uma senhora com a bolsa grávida de compras. A mulher encarou-o com desconfiança. Ele parou, o medo se transformando em desafio nos olhos que meio furavam a natureza da mulher. Suspensos no meio da tarde, mediam-se expectantes. Pensou em correr, depois riu um risinho cínico que aprendera na televisão -ela não sabia de seu crime. Então esperou. Até que a mulher abriu a bolsa e estendeu-lhe dois biscoitos. Balbuciou um agradecimento de espanto com tanta inocência humana e enfiou-os no bolso, junto com a pedrinha branca. A silhueta da mulher morria na esquina quando ele se interrogou, numa primeira incompreensão. Saíra de casa apenas com o pião, agora já tinha dois biscoitos, uma sombra, uma pedrinha branca e um acontecimento. Fugir não era então ir se despojando de coisas? Não entendeu, mas o poste que marcava longe o lugar do encontro suspendeu a dúvida. Preocupado, encaminhou-se para lá.

Não via a menina. Correu para o poste, investigou as pessoas que passavam mas nenhuma tinha jeito-de-menina-que-ia-fugir. Coçou a cabeça. Num desânimo, esperar. Acomodou a irritação no meio-fio, tirou as posses do bolso. Começava por um biscoito, depois brincava com o pião, depois o outro biscoito, depois desenhava no chão com a pedrinha branca, depois pensava na coisa acontecida. Detestava a improvisação, por isso ficou um pouco abalado com a ausência da menina e teve que planejar ações em que não havia pensado. Começava a desconfiar seriamente da honestidade do sexo oposto. Acumulou um série de queixas que abalaram o prestígio da menina, e preparava-se para pensá-las quando o biscoito sobre a calça fez um jeito fascinante, assim meio pedindo para ser comido. Havia-se recusado tantas coisas nos últimos dois dias que guardava mesmo um pouco de fome formando um espaço branco no estômago. Rompendo com o planejamento, devorou voraz os dois biscoitos, depois misturou pedaços de unhas aos farelos restantes. Quase saciado, girou o pião de leve no cimento. Um menino que passava olhou fixo, invejando. Lembrou da impontualidade da menina e perguntou objetivo:

-Quer fugir comigo?

Inexperiente dessas coisas, o outro arregalou os olhos:

-Quê?

-Quer fugir comigo?

-Pra onde?

-Não sei ainda. Qualquer lugar.

-Pode ser Vênus?

-Pode.

-E Gotham City?

-Pode.

-E. ..e. ..(a geografia falhava).

-Quer ou não quer?

-Não sei, o que é que você me dá se eu fugir com você? .

O menino investigou as posses desfalcadas. Percebeu o brilho de cobiça nos olhos do outro:

-O pião. Quer?

O outro fez cara de dúvida:

-Sei não. Isso presta?

-Quer ou não quer? ("É pegar ou largar", dizia o gangster na televisão).

-Quero.

Estendeu a mão. O menino fez um movimento esquivo de dissimulação.

-Agora não. Só depois que a gente chegar lá.

-Lá onde?

-No lugar, ora.

-Que lugar?

-O lugar para onde agente vai fugir .

-Mas você não disse que não sabe onde é?

-Disse.

-Então pode levar anos.

-E daí?

-Dai que eu quero o pião agora.




Desacostumado a argumentar, estendeu o pião. Antes que pudesse fazer qualquer gesto, o outro já ai longe, risada dobrando a esquina, o pião roubado, a promessa não cumprida. Todo magoado com a desonestidade alheia voltou a pensar na menina. Encaminhou-se para a casa dela. Bateu devagar na porta. A mãe da menina espiou pela janela.

-A Lucinha está?

-Não. Foi no aniversário da menina aqui ao lado.

Meio que tropeçou no inesperado da coisa. Devia ter ficado pálido, porque a mãe-da-menina-que-ia-fugir dobrou-se para ele, perguntando se estava sentindo alguma coisa. Estava. Mas como desconhecia aquela onda verde bem claro que se quebrava incompleta dentro dele, não teve palavras para explicar.

Disse não, não tenho nada, e foi saindo de cabeça baixa. Já não só duvidava da menina, mas principalmente de si próprio. Parecia-lhe um pouco culpa sua aquele amontoado de desencontros. De dez minutos para cá aconteciam coisas tão incompreensíveis que estava quase desistindo. Por uma questão de dignidade, bateu na porta da casa de menina-que-estava-de-aniversário, que apareceu de vestido cor-de-rosa perguntando se ele tinha trazido presente. Ele desentendeu um pouco mais, ainda assim fez voz firme e pediu para falar com a menina-que-ia-fugir. Com o maior cinismo do mundo, ela brotou de repente duma nuvem de babadinhos, a cara limpa, o cabelo penteado com uma fita -ela, a falsa, que vivia com os fios na boca. Mais grave: um copo de guaraná e uma cocada nas mãos. Nunca a vira tão Lucinha em toda a sua vida.

Teve vontade de dar um tiro nela. Mas estava tão desarmado que só conseguiu perguntar com voz meio irregular:

-Você não ia fugir comigo?

-Ia -disse a menina mordendo a cocada. E ai! O espaço branco da fome cintilou dentro dele.

-Esperei você até agora. Por que que você não foi?

-Por causa do aniversário, ué.

-E o que que tem isso?

-Tem que fugir a gente pode todos os dias, mas aniversário é só de vezenquando.

Tinha selecionado uma porção de adjetivo pejorativos para jogar em cima dela, mas o pretexto era de uma lógica tão irrecusável que ele ficou parado uma porção de tempo, sentindo o tudo que preparara lento em dois longos dias de meditação ir-se desfazendo como a cocada na boca da menina.

Ela olhava para ele, ele pensava na frase, pensava, pensava, ai, o espaço branco aumentando por dentro, uma baita raiva da menina, da mulher que dera os biscoitos, do moleque que fugira com o pião, vontade de bater neles todos ou, na impossibilidade, sapatear até ficar roxo e a mãe chamar o médico num susto. Mas os barulhos da festa cresciam lá dentro, o sol morrendo dourava ainda mais o guaraná, o espaço em branco aumentava até o não-suportar-mais. Indeciso ainda, virou o pé leve no chão. Até que deixou de lado o pudor e perguntou:

-Será que ela deixa eu entrar sem presente?

21.10.11

Leonilson



http://www.projetoleonilson.com.br/site.php
Rua França Pinto, 375
Vila Mariana - São Paulo - CEP 04016-032
Fone: 55 11 5572.1534

Maiakovski

Tudo perfeito e maravilhoso 2011!



"Iluminar para sempre, iluminar tudo, até os últimos dias da eternidade. Iluminar e só. Eis o meu lema e o do Sol."
Maiakovski

28.9.11

Clarice Lispector

"Tinha que existir uma pintura totalmente livre da dependência da figura - o objeto - que, como a música, não ilustra coisa alguma, não conta uma história e não lança um mito.  Tal pintura contenta-se em evocar os reinos incomunicáveis do espírito, onde o sonho se torna pensamento, onde o traço se torna existência."


"Hoje é noite de muita estrela no céu."


"Vejo que nunca te disse como escuto música - apoio de leve  a mão na eletrola e a mão vibra espraiando ondas pelo corpo todo: assim ouço a eletricidade da vibração, substrato último no domínio da realidade, e o mundo treme nas minhas mãos."

Água Viva.

15.9.11

Jorge Larrosa

"Parar para olhar, para escutar, para pensar.
Pensar mais devagar. Olhar mais devagar.
Escutar mais devagar. Parar para sentir.
Sentir mais devagar. Demorar-se nos detalhes.
Suspendera opinião, o juízo, à vontade, o automatismo da ação.
Cultivar a atenção e a delicadeza. Abrir os olhos e os ouvidos.
Falar sobre o que nos acontece. Aprender a lentidão.
Escutar aos outros. Cultivar a arte do encontro.
Calar muito. Ter paciência.
Dar-se tempo e espaço.

LARROSA.Jorge.Notas sobre a experiência e o saber da experiência.Conferência proferida no I Seminário Internacional de Educação de Campinas.Leituras,SME nº 4 julho/2001.p.5

Clarice Lispector

"Vou falar do que se chama experiência. É a experiência de pedir socorro e o socorro ser dado. Talvez valha a pena ter nascido para que um dia mudamente se implore e mudamente se receba.Eu pedi socorro e não me foi negado. Senti-me então como se eu fosse um tigre com flecha mortal cravada na carne e que estivesse rondando devagar as pessoas medrosas para descobrir quem teria coragem de aproximar-se e tirar-lhe a dor. E então há a pessoa que sabe que tigre ferido é apenas tão perigoso como criança. E aproximando-se da fera, sem medo de tocá-la, arranca a flecha fincada.
E o tigre? Não se pode agradecer. Então eu dou umas voltas vagarosas em frente à pessoa e hesito. Lambo uma das patas e depois, como não é palavra que tem então importância, afasto-me silenciosamente."

Água viva.
"... Porque a casa é o nosso canto do mundo.
Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo.
É um verdadeiro cosmos. Um cosmos em toda a acepção do termo..."

BACHELARD, Gaston. A poética do Espaço. Martins Fontes. São Paulo, 2003. pg24.

14.7.11

Eduardo Krug

Enviado por Claudia Sperb


Faz tempo que você não se relaciona?

Nào falo de ter alguém ao lado, de estar com
alguém a muito tempo ou de ter interesse nisso. Falo de relacionar-se, de ir a fundo na coisa. Algo que faça você dizer que está vivo, ou sentir a vida passando pelas entranhas.

A quadratura de Saturno/Plutão fala disso definitivamente. Talvez assuste um pouco com a tremenda intensidade como pode aparecer. É um convite, mas não um convite social daqueles que você chega e daqui a pouco já saiu: o convite é outro. Pede a você bem mais do que ideias prontas e jeitos habituais de estar aí bem comportado e cumprindo o papel que lhe cabe, dentro da lógica que aprendeu.

Esse convite chama a um mergulho mais conectado, a um contato com um espaço de silêncio. Um espaço que intimida e pede mais de você, pede um compromisso com a vida. Você entra e mergulha ao fundo....e do fundo para dentro.

A partir daí algo se abre, você não tem mais o medo, a negatividade se foi, escorreu pelo ralo e a ansiedade evaporou-se toda. Sobram destemor, confiança e presença. Você está ali puro e inteiro frente à alguém, à algo. Não interessam mais todas as amarras à estrutura construída, não importa mais o que devia ser e nem o que poderia acontecer.

Some aquela sensação do tempo linear, desaparecem distâncias, o futuro, o passado. A relação toma você por inteiro. É um retorno, uma conexão vital que parece ter o tom da eternidade, do eterno. Essa paixão vem e abre tudo que precisava ser aberto, vitaliza, sensibiliza, traz de volta um bom senso de contato e fundamentalmente liberta e solta um jeito de ser.

É como a flauta dançando ao vento e o vento seguindo a flauta. Mas, quem sabe essa paixão possa ser um pouco diferente da patologia passional das novelas de sempre. Essa paixão traz junto a com-paixão, é o veículo da compaixão.

Dai a importância de relacionar-se...

O amor próprio desenvolve-se a partir de um apaixonamento e vice versa. Não é retórico, não é teórico, é fruto de uma experiência! Experiencie!

Deixe, deixe, deixe.....

Abra-se para o contato com aquilo que precisa ir embora de dentro de você, suporte! O que vem a partir dessa experiência pode ser tão bem suportado como suportamos tantas outras pesadas experiências não vitais do dia a dia, suportamos toda essa carga de negatividade, por que não suportar a experiência Viva??

Urano em áries, pede a soltura dos individuos, espaço para "ser" pede a confiança básica e impulsiona para a relação, vital....vá....vá ....vá!!

Do outro lado a responsabilidade com o outro (Saturno) porém a necessidade de dar limites novos à relações antigas criar um novo universo. Soltar o outro ao qual nos atrelamos por uma série de convenções inclusive nosso medo do abandono.

Soltar o outro é um ato de não egoísmo, pode ser uma reconexão com o amor que ainda borbulha dentro de você. Isso implica em transformar a estrutura (plutão/capricórnio), a responsabilidade individual de compartilhar aquilo que sente, que percebe em si, na sua consciência individual, trazer à tona, compartilhar, socializar. É um chamado que é quase um aviso: Ultrapasse seu medo! A próxima Vida pode iniciar num ponto um pouco mais aberto caso você abra...a porta.

Relacione-se! Assim acontece uma contribuição absurdamente valiosa em âmbito coletivo.

Perceba.....está acontecendo isso ao seu redor!

Mudar o olhar .....mudar a atitude.... mudar o mundo que vemos.

Abraços Arianos!

Du

3.3.11

Félix Coronel

Curriculum Vitae

"Eu já dei risada até a barriga doer, já nadei até perder o fôlego, já chorei até dormir e acordei com o rosto desfigurado. Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone, já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo, Já fiz confissões antes de dormir num quarto escuro pro melhor amigo. Já confundi sentimentos, Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.

Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais dificeis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda. Conheci a morte de perto, e agora anseio por viver cada dia.

Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante.

Já saí pra caminhar sem rumo, sem nada na cabeça, ouvindo estrelas. Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.

Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.

Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.

Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade.

Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.

E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: "- Qual sua experiência?" Essa pergunta ecoa no meu cérebro: "- experiência...experiência..." Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!"

Luis Fernando Veríssimo

"Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar:
Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.
Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em SP.
Eu levo minha mulher a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta.
Perguntei a ela onde ela gostaria de ir no nosso aniversário de casamento, "em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!" ela disse. Então, sugeri a cozinha.
Nós sempre andamos de mãos dadas...
Se eu soltar, ela vai às compras!
Ela tem um liquidificador, uma torradeira e uma máquina de fazer pão, tudo elétrico.
Então, ela disse: "nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar".
Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Lembrem-se: o casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos divórcios começam com o casamento. Eu me casei com a "senhora certa".
Só não sabia que o primeiro nome dela era "sempre".
Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.
Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha.
Ela perguntou: "O que tem na TV?"
E eu disse: "Poeira".

Luís Fernando Veríssimo

Millôr Fernandes

Sonho

Fique frio. Para cada sonho que não se concretiza, há um pesadelo que também não.


Razão

Jamais pretendi estar sempre com a razão. Mas não consigo evitar que ela esteja sempre comigo.


Sexo

Sexo causa gente.


Duplo sentido

Idiota mesmo é o sujeito que, ouvindo uma história com duplo sentido, não entende nenhum dos dois.

Décio Pignatari

"Um poema é criação pura - por mais impura que seja. É como uma pessoa, ou como a vida, por melhor que você a explique, a explicação nunca pode substituí-la. É como uma pessoa que diz sempre que quer ser compreendida, mas o que ela quer mesmo é ser amada."

28.2.11

Dusek e Travolta

Fui presidente do fã-clube de Eduardo Dusek no final da década de oitenta, ainda. Era completamente apaixonada por ele, sabia todas suas canções de cor, seus gostos, sua data de nascimento, cor predileta, comidas e tudo mais que uma fã pode saber.

A vida mudou de rumo e acabei por sair do fã-clube. Anos depois me casei e vim morar no Rio Grande do Sul.

Cerca de dois ou três anos fui vê-lo num show aqui. Como toda "fã de carteirinha" pedi que dissessem a ele que eu estava ali, vinte e poucos anos depois.

Ele subiu ao palco e achei que estivesse procurando por alguém porque ele olhou para todos, inclusive em minha direção. Sorriu.

Como em algumas peças de teatro, que um artista escolhe alguém da plateia para "cristo", ele me escolheu e passou todo o show brincando comigo. Ao final, ele pediu que eu subisse ao palco e, obviamente, não subi. Ele desceu, veio em minha direção e pediu que a plateia me aplaudisse. Nos abraçamos. E conversamos. Na verdade, ele me disse muitas coisas enquanto nos abraçávamos, mas sou surda de um ouvido e era ele que estava ao lado de Dusek. Não ouvi nada. Não sei o que ele me disse. Nada. Nem sequer imagino. Mas a emoção que senti foi absolutamente igual a que sentia naqueles tempos. Mãos frias, peito disparado, não sabia o que dizer, como me portar. Absolutamente igual.

Estava assistindo alguns vídeos entre ontem e hoje no Youtube. Basicamente de filmes musicais. Na verdade, musicais com John Travolta (Grease - Nos tempos da brilhantina, Os embalos de sábado a noite, Os embalos de sábado continuam, Hairspray, John e Olivia Newton-John em show...). Acho que senti saudade dele, sem conhecê-lo de perto. Senti saudade do Dusek também.

Assisti inúmeras vezes os filmes dele, sobretudo os musicais. E muitas mais o Grease. Me lembro das coreografias, das músicas, do figurino, do início, meio e fim do filme. Tudo sei de cor.

Lá pelas tantas, senti que estava sorrindo. Lá pelas tantas, estava era rindo mesmo! E, a partir daquele momento, pensei em pessoas que fazem parte da nossa vida sem saber. Pensei no Dusek e no John. Um eu conheci de perto, senti seu cheiro, ouvi sua voz doce, muitas vezes debochada, a textura de seu cabelo. Outro nunca vi na vida. Sua voz, seus olhos azuis conheço dos filmes.

Então, me dei conta de que às vezes encontramos com um artista que muda nossa vida de alguma maneira, que nos faz ver a vida de uma maneira diferente, às vezes mais dramática, ou com mais brilho, que nos embala com uma canção ou até mesmo, uma cena de filme. E ai está a diferença. Um perto. Outro distante.

Me dei conta ainda de que estas importâncias, estas marcas, estes brilhos pertencem apenas a cada um de nós e não a um conjunto, de dois que seja. Quando se tem muita sorte - não sei que outro nome dar - acabamos por conhecer este artista e conseguimos lhe contar das importâncias de suas músicas, de seus filmes em nossa vida. Parece piegas. Parece bobagem, mas quando se tem essa pseudo intimidade, por mais que nunca mais o vejamos novamente, temos uma relação estabelecida. E para sempre, eu diria.Por mais que seja em nossa cabeça. Acho que por isso os fãs tenham as mãos suando sempre, o peito disparado e os olhos arregalados.

Por outro lado, quando ele está distante geograficamente - em meu caso, o John - a chance de saber as relações que travei entre minha vida e seus filmes, torna-se impossível, praticamente. Ele jamais saberá quão importante é para mim. Gostaria de lhe contar várias coisas. Gostaria de lhe abraçar, simplesmente.

Enfim, sigo meu caminho. Continuo assistindo aos filmes, ouvindo as canções, e esperando encontrá-los novamente. Um de frente. Outro, no próximo filme.

8.12.10

As coisas da grama

Sente na grama.
Passe as mãos lentamente por ela.
Deite de barriga para cima.
Olhe o céu por tempo indeterminado.


Role pela grama sem vergonha.

Fique de barriga para baixo.
Repouse seu rosto no chão.
Perceba a grama com o nariz.

Sorria, se sentir vontade.
Ria, se sentir cócegas.

Deslize seu rosto  num vai-e-vem pela grama.
Sinta  a cócega da grama novamente.
Sinta seu carinho.
Permita-se  sorrir novamente.

Relaxe.


Para Yoko.

Vaziez

Acordo virada há dias.
Durmo mal.
Me comporto mal.
Assim me lembro de Marisa (Monte).
Assim, me lembro de todos.
Até dos que não conheço.

Choro calada há dias.
Acordo mal.
Me comporto como estranha.
Não me lembro de ninguém.
De ninguém.
Mas me lembro dos Teus olhos (de Camello).

sou
´

Não, não me lembro dos olhos.
De ninguém.
Não conheço os sorrisos.
Nem os risos nestes dias.
Me perdi de todos.
Me perdi de mim.

Me perder e me achar, diariamente.

Para Wally Salomão: suportar a vaziez, suportar a vaziez, suportar a vaziez.

vácuo

Passei o dia lhe esperando.
Nada.
Em qualquer idioma é igual.
Vazio.
Buraco.
Oco.

Ivete Sangalo - Teus Olhos - part. Marcelo Camelo





Teus olhos

Marcelo Camello

Marcelo Camello e Ivete Sangalo


Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos
Teus olhos abrem pra mim

Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos bons
Tudo que se quer vai lá

Eu vi na terra
Você chegando assim
Assim, de um jeito tão sereno

Ai, ai, meu Deus do céu
Eu vivo sem pensar
Se sou só

Acho que não vou mais
Agora tudo tanto faz,
meu bem
Eu vi você passar
Levando meu encanto

Caminho sem saber de mim
Eu vivo sem pensar
Se sou só
ou sou mar
Mas eu conto com você
Pois enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá
Mas enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá

Vanessa da Mata


O tal casal

Depois que o mal tempo foi
Eu vi você chegando
Trazia o rosto doce, bom e aliviado
Nada mais incerto
Passava também um tempo

Voltávamos a ser então o tal casal
Apaixonado, apaixonado

Gostei de ser de quem me gosta
Eu aprendi
Querendo a vida bem mais fácil
Eu resolvi
É tão melhor viver em paz
Ninguém me faz sentir assim

Agora mais que nunca somos o tal casal
Apaixonado, apaixonado

E não adianta alguém
Querer que não seja assim
Isso aqui não é o mal
E se anula por si só
E não adianta ir
Tentar se esconder, fugir
Sabedor é quem está,
Amadurece e recebe
O presente... presente...

Gostei de ser de quem me gosta
Eu aprendi
Querendo a vida bem mais fácil
Eu resolvi
É tão melhor viver em paz
Ninguém me faz sentir assim
Ninguém me faz sentir assim
Ninguém me faz sentir

Cd Bicicletas, bolos e outras alegrias

Claudina Pereira de Pereira

"Preciso informações sobre tipos de liberdades. Minha inspiração se renova a cada instante"
Citada em Entrevista: Manoel de Barros

Manoel de Barros


"Mas a gente não é apenas aspecto. Não somos uma coisa com ninguém dentro. Nossa essência precisa de ser exercida. E a gente exerce a essência como quando cria a solidão, como quando abre o amor. Se através da linguagem de nossa poesia a gente conseguir se expor, o mundo se refletirá (...)."

"Somos diferentes. Eu mexo com palavras. O outro é fazendeiro de gado. Enquanto o cidadão mantém a casa em ordem, o poeta cultiva irresponsabilidades. Eu sou rascunho de um sonho. Ele é pessoa da terra. Eu tenho um entardecer de angústias. E o outro vai pro bar se esquecer. Recebo no meu olho beijamento de águas. Me sinto um ralo de sabedoria. E o outro zomba de mim."

"De re pente uma palavra me reconhece, me chama, me oferece. Eu babo nela. Me alimento. Começo a sentir que todos aqueles apontamentos têm a ver comigo."

"Sou puxado por ventos e palavras."

"Uma folha me planeja."
"Nas profundezas da matéria desenham-se sorrisos imprecisos, germinam conflitos, engrossam formas apenas esboçadas. Toda matéria ondula de possibilidades infinitas, que a perpassam com arrepios insípidos. Esperando pelo sopro vivificante do espírito, ela transborda de si sem parar."

"Não tenho certeza mesmo quase nunca do que faço. Porque o faço com o corpo. E a sensibilidade é traideira. Às vezes tapa a visão. Eu sou demais coalescente às coisas. Não dá para tomar distância de julgador. Os versos vêm de escuros. Eu só tenho meus versos e a incerteza."

"Poeta não tem compromisso com a verdade, senão que talvez com a verossimilhança."

Encontros: Manoel de Barros.
Organização de Adalberto Müller
Apresentação de Egberto Gismonti
Editora Beco do Azougue.
Rio de Janeiro

3.9.10

Estive ausente.
Andei pensando na vida, talvez como nunca antes.
Estou de volta. Nem preciso dizer, oras.

28.7.09

Por Baudelaire

Embriaga-te

Devemos andar sempre bêbados.
É a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do tempo que te pesa sobre os ombros e te verga ao encontro da terra, deves embriagar-te sem cessar.
Com vinho, com poesia, ou com a virtude.
Escolhe tú, mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas de uma vala, na solidão morna do teu quarto, tú acordares com a embriaguez atenuada, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, à tudo o que se passou, à tudo o que gira, à tudo o que canta, à tudo o que fala; pergunta-lhes que horas são: ¨São horas de te embriagares.
Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem descanso."
Com vinho, com poesia, ou com a virtude.

26.4.06

Para o começo

Creio que meu abraço, aquela coisa do aconchego, do carinho seja o mais importante.
O que prometo? Você nunca me perguntou. Mas estou aqui. Agora.
Seja bem vind@!