28.2.11

Dusek e Travolta

Fui presidente do fã-clube de Eduardo Dusek no final da década de oitenta, ainda. Era completamente apaixonada por ele, sabia todas suas canções de cor, seus gostos, sua data de nascimento, cor predileta, comidas e tudo mais que uma fã pode saber.

A vida mudou de rumo e acabei por sair do fã-clube. Anos depois me casei e vim morar no Rio Grande do Sul.

Cerca de dois ou três anos fui vê-lo num show aqui. Como toda "fã de carteirinha" pedi que dissessem a ele que eu estava ali, vinte e poucos anos depois.

Ele subiu ao palco e achei que estivesse procurando por alguém porque ele olhou para todos, inclusive em minha direção. Sorriu.

Como em algumas peças de teatro, que um artista escolhe alguém da plateia para "cristo", ele me escolheu e passou todo o show brincando comigo. Ao final, ele pediu que eu subisse ao palco e, obviamente, não subi. Ele desceu, veio em minha direção e pediu que a plateia me aplaudisse. Nos abraçamos. E conversamos. Na verdade, ele me disse muitas coisas enquanto nos abraçávamos, mas sou surda de um ouvido e era ele que estava ao lado de Dusek. Não ouvi nada. Não sei o que ele me disse. Nada. Nem sequer imagino. Mas a emoção que senti foi absolutamente igual a que sentia naqueles tempos. Mãos frias, peito disparado, não sabia o que dizer, como me portar. Absolutamente igual.

Estava assistindo alguns vídeos entre ontem e hoje no Youtube. Basicamente de filmes musicais. Na verdade, musicais com John Travolta (Grease - Nos tempos da brilhantina, Os embalos de sábado a noite, Os embalos de sábado continuam, Hairspray, John e Olivia Newton-John em show...). Acho que senti saudade dele, sem conhecê-lo de perto. Senti saudade do Dusek também.

Assisti inúmeras vezes os filmes dele, sobretudo os musicais. E muitas mais o Grease. Me lembro das coreografias, das músicas, do figurino, do início, meio e fim do filme. Tudo sei de cor.

Lá pelas tantas, senti que estava sorrindo. Lá pelas tantas, estava era rindo mesmo! E, a partir daquele momento, pensei em pessoas que fazem parte da nossa vida sem saber. Pensei no Dusek e no John. Um eu conheci de perto, senti seu cheiro, ouvi sua voz doce, muitas vezes debochada, a textura de seu cabelo. Outro nunca vi na vida. Sua voz, seus olhos azuis conheço dos filmes.

Então, me dei conta de que às vezes encontramos com um artista que muda nossa vida de alguma maneira, que nos faz ver a vida de uma maneira diferente, às vezes mais dramática, ou com mais brilho, que nos embala com uma canção ou até mesmo, uma cena de filme. E ai está a diferença. Um perto. Outro distante.

Me dei conta ainda de que estas importâncias, estas marcas, estes brilhos pertencem apenas a cada um de nós e não a um conjunto, de dois que seja. Quando se tem muita sorte - não sei que outro nome dar - acabamos por conhecer este artista e conseguimos lhe contar das importâncias de suas músicas, de seus filmes em nossa vida. Parece piegas. Parece bobagem, mas quando se tem essa pseudo intimidade, por mais que nunca mais o vejamos novamente, temos uma relação estabelecida. E para sempre, eu diria.Por mais que seja em nossa cabeça. Acho que por isso os fãs tenham as mãos suando sempre, o peito disparado e os olhos arregalados.

Por outro lado, quando ele está distante geograficamente - em meu caso, o John - a chance de saber as relações que travei entre minha vida e seus filmes, torna-se impossível, praticamente. Ele jamais saberá quão importante é para mim. Gostaria de lhe contar várias coisas. Gostaria de lhe abraçar, simplesmente.

Enfim, sigo meu caminho. Continuo assistindo aos filmes, ouvindo as canções, e esperando encontrá-los novamente. Um de frente. Outro, no próximo filme.